As diversas facetas da identidade

#Debate – Resenha do debate sobre os curtas Tupinambá Subiu a Serra e João Batista

Por Sarah Cafiero

Muito se discute sobre o papel social do cinema  e uma coisa parece ser um consenso, ainda que não de maneira explícita: o cinema pode ser usado como arma. Atualmente, é muito clara a influência que ele tem na cultura, de forma que se faz necessário que nos apropriemos dessa arma para usá-la em nosso favor. É o que nos mostram os documentários Tupinambá Subiu a Serra e João Batista.

Dirigido por Daniel Neves e Mario Cabral, Tupinambá Subiu a Serra trata de questões indígenas. O protagonista Casé Angatu, professor indígena, doutor em Arquitetura e Urbanismo, fala sobre o processo de aculturação, em que se adquire elementos de outra cultura sem abandonar sua própria tradição, em contraste com o epistemicídio: processo de apagamento cultural. 

Passando também pela demarcação de território indígena, Casé ressalta a força do cinema em construir as imagens do senso comum, assim como seu potencial de transformar e desmistificar essas imagens a partir da exposição de um novo olhar. É o que faz Rodrigo Meireles, em seu filme João Batista. Se você ainda não assistiu, corre lá na Cardume, que a partir de agora começam os spoilers:

João Batista é um dançarino, que performa canções de Michael Jackson nas ruas de Conselheiro Lafaiete, no interior de Minas Gerais. A população, que o vê apenas dançando, muitas vezes o considera estranho, o julga louco. Um vagabundo dançando na rua. O documentário de Rodrigo Meireles vem justamente mostrar um outro olhar sobre essa personagem. Enquanto os moradores de Lafaiete se surpreendem com a rotina de trabalho pesado de João Batista antes de seu expediente de dança à noite; o restante dos espectadores se admira ao conhecer, já ao final do filme,  a dimensão Michael Jackson do trabalhador comum.

E afinal, os dois filmes tratam disso: desconstruir imagens mostrando como identidades são compostas de diversos aspectos. Um homem pode ser professor universitário sem abrir mão de sua cultura indígena, assim como pode ser um trabalhador comum e performar música pop nas ruas. O debate, é claro, passa por essas questões, mas ainda vai muito além, então não deixe de assistir!

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