#Crítica – O curta-metragem denuncia o preconceito diário sofrido pelos refugiados. Mas ele também nos deixa acreditar no crescimento da tolerância e da empatia.
por Julia Alfa
O curta-metragem brasiliense O Véu de Amani, dirigido e roteirizado por Renata Diniz, é um drama que conta a história de Amani, uma criança paquistanesa que vive no Brasil. A obra de 2019 foi indicada a vários festivais e conquistou diversas categorias, como a de Melhor Roteiro no 47º Festival de Cinema de Gramado. Protagonizado por crianças, o filme aborda a temática do choque cultural e religioso de imigrantes e refugiados no Brasil de forma inocente, a partir do olhar infantil e ainda ingênuo das jovens.
Em sua cena inicial, encontramos Amani brincando de amarelinha com sua amiga enquanto conversam sobre as profissões de seus respectivos pais. Com a chegada de uma nova colega, Amani explica que seu pai é refugiado do Paquistão, no que a garota responde, inocentemente: “ah, o meu [pai] é açougueiro.” O breve diálogo nos entrega, em síntese, o que vemos no restante da história: o embaraço de conhecimentos e existências.
Logo em seguida, Amani é presenteada com um biquíni pela sua amiga, que não parece entender como a garota consegue usar seu hijab e estar sempre completamente coberta mesmo quando faz calor. O enredo segue circulando a divergência da vestimenta, o que se mostra simbólico mesmo no título da obra: o uso da palavra Véu para indicar o hijab; um contraste de um nome de conjuntura nacionalmente católica, indicando uma vestimenta islâmica.
O Brasil abriga, atualmente, cerca de 60 mil pessoas reconhecidas como refugiadas, de acordo com o Ministério da Justiça. O filme aborda um tema relevante, importante e atual. Talvez O Véu de Amani possua um desenvolvimento rápido demais, que não permite que os espectadores se conectem tanto com as personagens – mesmo porque, apesar das atrizes mirins apresentarem grande potencial, é um grande desafio sustentar a dinâmica de uma obra em suas atuações.
É evidente o cuidado da criação e produção da história, especialmente ao se tratar da religião. Com as visões católicas e muçulmanas postas à cena, a história não se rende ao maniqueísmo. Mesmo com a ausência de adultos, é possível perceber que o comportamento e os comentários das crianças são influenciados pelo que escutam em casa – e também em notícias televisivas manipulativas e ideológicas.
Ainda que a história não se aprofunde em seu enredo, é possível ver que aquelas crianças estão aprendendo. A cada erro rapidamente reconhecido, há um pedido de desculpas. O curta-metragem denuncia o preconceito diário sofrido pelos refugiados – neste caso, especialmente os muçulmanos. Mas ele também nos deixa acreditar no crescimento da tolerância e da empatia.