#Crítica – Confira as sugestões de Julia Alfa, Juliana Gusman e Sarah Cafiero
Julia Alfa, Juliana Gusman e Sarah Cafiero, colaboradoras do Piracema, comentam algumas obras de curta-metragem indicadas ao Oscar de 2022. Confira as indicações da nossa equipe:
Indicação Juliana Gusman: The Queen of Basketball (Ben Proudfoot, 2021)
Ben Proudfoot, que no ano passado participou dos Academy Awards com A Concerto is a Conversation (2021), retorna à competição pelo prêmio de melhor documentário de curta-metragem com o biográfico The Queen of Basketball, sobre Lusia “Lucy” Harris, uma das pioneiras do basquete nos Estados Unidos. Articulando entrevistas e materiais de arquivo – elementos que, em si, não são exatamente inovadores – o documentário consegue atingir um resultado surpreendente. Com simplicidade e delicadeza, resgata mais uma grande mulher dos confins do esquecimento. As filmagens do passado, de abundância apreciável, ganham novas camadas de vivacidade no encontro com a trilha sonora, entusiástica e excitante. Vibra-se com cada arremesso de uma Lucy no auge de sua juventude. Não que o envelhecimento tenha lhe tirado a energia – aos 66 anos, a esportista esbanja vigor em seus depoimentos que, gravados em amigáveis primeiros planos, são um espetáculo à parte.
Mesmo confrontada com estorvos nada insignificantes – da necessidade de ajudar os pais nas colheitas de algodão, uma herança escravocrata, ao racismo cotidiano na Delta State University, casa do seu time de basquete – Lucy jamais é enquadrada como vítima, o que não é incomum no cinema não-ficcional. Ela sempre é colocada – ou, com sua alegria inabalável, se coloca – em um lugar altivo e afirmativo, digna de alguém que, no ápice da maturidade, já tem consciência da própria grandeza. O documentário de Proudfoot insurge como uma espécie de reparação histórica extemporânea, e nada mais que justa. A indicação ao Oscar, infelizmente, é outro reconhecimento tardio: Lucy morreu em janeiro deste ano, antes de saber da honraria. Torço para que a premiação seja mais uma atrasada e merecida celebração de sua jornada. The Queen of Basketball está disponível, gratuitamente, no canal do New York Times no YouTube.
Indicação Sarah Cafiero: The Windshield Wiper (Alberto Mielgo, 2021)
The Windshield Wiper é um ensaio sobre o amor. Nos primeiros segundos de filme, a questão é levantada por um homem solitário num café: “o que é o amor?” Sob a conversa casual dos demais clientes do estabelecimento, o filme nos mostra diversas cenas cujos temas se emaranham no amor, principalmente romântico, como a solidão, o desejo, a paixão e os relacionamentos, abrindo mão de protagonistas para retratar o sentimento de forma particular em situações diversas com personagens distintos.
A animação tem estilo realista com um resultado que se assemelha à rotoscopia. As cores vibrantes dão vida e profundidade aos personagens e cenários, mas o destaque do curta-metragem está no som. A trilha é capaz de criar ambientes sonoros extra-quadro que imergem o espectador naquele universo. Um exemplo é o café, cujos clientes em momento algum entram em cena, mas por meio de suas vozes e ruídos ganham opinião e personalidade. O som ainda faz um excelente trabalho em destacar ações simples, como a interação com o aplicativo de relacionamentos; ou representar processos complexos, como a troca de mensagens de texto via satélite, criando assim sensações que ajudam a estabelecer a atmosfera do filme.
É preciso informar que o curta contém uma cena de suicídio. Cena que, a meu ver, não se conecta de forma inerente ao tema e está ali apenas pelo efeito estético de drama e tensão. The Windshield Wiper vale a pena pela experiência de áudio e visual. As cenas curtas não parecem ter a pretensão de responder à pergunta do homem do café e sua própria conclusão, ao fim do filme, é vaga e possivelmente pessoal. Dessa forma, The Windshield Wiper parece consagrar vã a busca por sentidos. O filme está disponível gratuitamente no YouTube.
Indicação Julia Alfa: A Sabiá Sabiazinha (Dan Ojari, Michael Please, 2021)
O curta-metragem britânico A Sabiá Sabiazinha ou “Robin Robin”, em seu título original, é um stop-motion musical que encanta os espectadores com sua história bonita, divertida e natalina. A obra compartilha espaço no catálogo da produtora Aardman Animations com outros filmes conhecidos, como o famoso A Fuga das Galinhas (Nick Park e Peter Lord, 2000) e a saga de filmes Wallace & Groomit (Nick Park e Steve Box, 2005). Agora, indicado à categoria de melhor curta-metragem animado na premiação do Oscar, o caçula Sabiá Sabiazinha apresenta-se aos seus espectadores com qualidade e carisma, encantando sua audiência.
Em sua meia hora de duração, conhecemos a história da adorável sabiá que é adotada por simpáticos roedores. A família é muito unida, e, como uma equipe, eles espreitam durante as noites para roubar migalhas na casa de humanos. Apesar de possuírem fortes laços fraternais, é evidente que seus irmãos ratinhos são muito mais sorrateiros e silenciosos, e que a sabiá, com sua ingenuidade e longas perninhas, acaba atrapalhando a caça da família. Isso causa um clima desconfortável, que cria na sabiá o desejo de consertar a situação e agradar aqueles a quem ama.
Sabiá Sabiazinha é uma obra leve e engraçadinha, que utiliza de sua construção sutil para deixar de moral a importância de sermos quem somos, e não quem acreditamos que as outras pessoas queriam que fôssemos. Nossas diferenças são o que nos tornam especiais e únicos. Foi apenas aprendendo isso que a sabiá conseguiu, finalmente, ajudar sua família do jeito que tanto queria. Hoje cotados como um dos favoritos de sua categoria no Oscar, a sábia sabiá e sua família de ratinhos estão disponíveis e podem ser assistidos pela Netflix.