As disputas políticas e ideológicas no cinema

#Dicas – Livro – Cinema como prática social, de Graeme Turner

por Juliana Gusman

Graeme Turner, professor e pesquisador australiano vinculado à Universidade de Queensland, aponta que, nos estudos sobre cinema – impulsionados nos Estados Unidos nas décadas de 1960 e 1970 –, há uma predominância das abordagens e análises estéticas, que ambicionam problematizar, sobretudo, a capacidade artística do campo. Em sua obra intitulada Cinema como prática social (1997), o autor pretende, não obstante, romper com esta tradição, encarando-o sob outros prismas: como entretenimento, narrativa e evento cultural.

Turner evita confrontar o cinema apenas como um objeto estético para exibição e fruição para pensar sobre suas articulações com o espaço social comum. Por isso, advoga um tipo de investigação não apenas textual, mas também contextual – como o cinema, por exemplo, se relaciona com estatutos discursivos instituídos, legitimados? Em outras palavras, como o cinema pode reiterar ou subverter perspectivas e valores dominantes, frequentemente violentos e atravessados por assimetrias e desigualdades continuamente instituídas? Assim, Turner encara o cinema como representação, ou seja, como uma prática que envolve não apenas uma elaboração criativa em torno de linguagens audiovisuais compartilhadas, mas também ideologias e disputas por hegemonia. Afinal, não é possível pensar o cinema fora dos embates políticos do nosso tempo.

A partir de análises de filmes como Thelma & Louise (Ridley Scott, 1991) e Procura-se Susan Desesperadamente (Susan Seidelman, 1985), Cinema como prática social se afirma como uma obra acessível, que nos oferece um rico panorama dos estudos de cinema – passando pelo formalismo, pelo realismo, pelos debates sobre cinema de autor e gêneros cinematográficos, assim como pelas teorias feministas e pelos estudos culturais – para propor um novo modo de olhar as produções do campo em suas dinâmicas de circulação e engajamento.

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