Astrologia e Cinema: o signo de Libra

Por Michel Ramos, astrólogo e realizador de cinema.

Quando o sol ingressa no signo de Libra (22 de setembro a 22 de outubro, aproximadamente), dizemos que o sol está em queda. Isso porque Libra é o signo que anuncia a chegada do outono no hemisfério norte, período em que a luz solar começa a diminuir e a sombra, a aumentar. No equinócio, luz e sombra são opostos em proporções iguais e é justamente isso que o signo de Libra busca: o equilíbrio.

Antes de falarmos propriamente sobre este signo tão importante para todos os indivíduos, independente de seu signo solar, precisamos entender alguns conceitos fundamentais da própria astrologia. Diferentemente do que se pensa ou diz popularmente, a astrologia não é um estudo sobre a influência dos astros na vida de um indivíduo. Um planeta não tem influência sobre a vida de ninguém, uma vez que é “apenas” um corpo celeste separado por anos luz de um indivíduo na Terra. Contudo, a posição que este planeta está, seu ritmo, movimento e a sua relação angular com outros planetas no céu, traz diversos indicadores de comportamentos, eventos e situações que podem acontecer a um indivíduo, um grupo, um país ou a toda uma geração de pessoas em um determinado momento e em uma determinada situação. Pense na posição dos planetas como os ponteiros de um relógio. Quando vemos um relógio indicar 12:00, sabemos que o horário do almoço chegou ou está próximo. Não é a posição dos ponteiros que te dá fome, mas eles indicam que aquele momento do dia chegou. Essa reflexão é uma síntese da obra do astrólogo e teórico Dane Rudhyar, que eu indico fortemente para quem quer se aprofundar.

Portanto, entendo a astrologia como uma linguagem. Olhar para a posição e movimentação dos planetas nos signos e nas casas astrológicas, aspectos planetários, elementos, ritmos, trânsitos, progressões, etc, nos traz informações que devem ser analisadas por um intérprete dessa linguagem – o astrólogo. Neste sentido, acredito que tanto a astrologia, quanto o cinema, possuem muito em comum, pois ambos necessitam de estudos e conhecimentos sobre suas próprias linguagens para que possamos extrair ao máximo suas informações. Anna Maria Costa Ribeiro, grande nome da astrologia moderna e brasileira, diz que o astrólogo é, antes de tudo, um bom contador de histórias.

Voltemos ao signo de Libra. Libra é o sétimo signo do zodíaco, o segundo do elemento ar (Gêmeos, o primeiro; Aquário, o último), tem ritmo cardinal (assim como Áries, Câncer e Capricórnio) e é regido pelo planeta Vênus (que também rege o signo de Touro). Libra é o oposto complementar de Áries, o primeiro signo do zodíaco. Essa oposição é bastante sintomática sobre o próprio signo de Libra, uma vez que Áries é o ego, a individualidade, o início e a ação, e Libra é o “eu e o outro”, a relação, a parceria, a ponderação e a reflexão. Ou seja, Libra é o equilíbrio necessário para que não haja apenas inícios e também para que não sejamos absolutamente individuais. Libra nos faz entender a necessidade dos pares.

Regido por Vênus, o planeta das belezas, dos afetos e das riquezas, Libra se embebeda da beleza venusiana para procurar no mundo seus pares e exercer suas manifestações artística, criativa, amorosa, sexual e sensível. Portanto, a arte é um dos objetos deste signo (que também se apresenta em outros signos, de outras formas). Na astrologia cabalística, existe a crença de que Libra é um signo indeciso em função do próprio planeta que o rege. Vênus, o segundo planeta mais próximo do sol, receberia, portanto, tanta luz do astro, que deixaria tudo igual, não conseguindo distinguir entre uma coisa e outra e, então, não conseguindo se decidir. Essa ideia nos ajuda a entender um pouco da dinâmica libriana.

Pensemos numa balança, dessas antigas, que é o próprio símbolo do signo. À medida que um prato recebe um peso, o outro é diretamente afetado, sendo necessário contrabalanceá-lo para que haja um equilíbrio e se apure o resultado correto. Libra é a ponderação entre uma coisa e outra, a reflexão (característica dos signos de ar), é a ordem para que se aja com assertividade.

Se Vênus é a deusa do amor na mitologia romana, ela pode ser percebida por Oxum na mitologia Iorubá. Oxum é a Orixá representante do trono do amor, das belezas, das riquezas e dos afetos. É representada por uma mulher à beira de um rio, segurando um espelho e admirando sua própria beleza. Nesse arquétipo, podemos perceber Libra como um signo que não está interessado apenas em se relacionar, mas também em perceber em si as alterações que são provocadas por suas decisões e relacionamentos. A dona do ouro se interessa também pelas riquezas do mundo, a fartura, a prosperidade e a beleza, o que trará aos seus “filhos”, o interesse pela matéria, pela imagem e aparência. Libra é um signo que busca a atenção para si, busca agradar e ser diplomático, o que faz com que librianos tenham muita dificuldade em dizer não ou discordar, quando percebem que isso pode causar algum incômodo à sua volta.*

Portanto, levantamos alguns dos vários arquétipos desde signo, como: a dúvida (incerteza gerada pela ideia de que tudo lhe parece igual), o afeto (a busca de pares e manifestação dos desejos sexual e amoroso) e a arte (necessidade de expressão criativa e artística – devolver ao mundo a beleza que lhe foi dada). Para ilustrar de maneira ainda mais direta, trouxemos três indicações de filmes da plataforma Cardume, cada um representando um desses aspectos.

O primeiro é “Arteiro”, dirigido por Bruno Carvalho, que conta a história de Tomé, um jovem rapper que deixou de acreditar em seus sonhos, e que quando internado em uma Unidade Socioeducativa, tenta reencontrar na música um novo caminho para seguir. No filme, acompanhamos as dúvidas e incertezas de um jovem que busca se expressar no mundo através de sua própria visão sobre ele. A música é a maneira que Tomé tem para refletir sobre a sua realidade. A dúvida entre seguir seu sonho e a incerteza de onde este caminho o levará, é uma das tônicas deste musical sensível e tocante.


O segundo filme escolhido é “O homem que pintava músicas”, animação dirigida por Jackson Abacatu. O filme indaga “qual será o som de uma mancha vermelha? E do amarelo com um pouquinho de cinza? Existe uma trilha sonora das montanhas, ou a música do mar?”. O filme aborda de maneira sensível, com domínio da linguagem cinematográfica e com uma lindíssima animação, as inquietações humanas para se expressar a arte, para manifestar no mundo aquilo que se sente. É o que Votagus procura: músicas de pinturas.


O terceiro filme é “Superpina”, dirigido por Jean Santos. O curta de fantasia científica, aborda os desejos afetivos e sexuais da natureza humana. O filme conta a história de Paula (Dandara de Morais), uma jovem criativa que faz “bicos” como fotógrafa e também atua como cantora em um restaurante chamado “Boca da Noite”. Seu currículo é selecionado para trabalhar no “Superpina”, um pacato supermercado no coração do bairro do Pina. Entre prateleiras e estoques, clientes e trabalhadores experimentam o “Amor Primo”.

É importante percebermos os signos para além das pessoas que nasceram com o Sol em trânsito sobre ele. Um signo está presente em tudo o que fazemos, em toda a manifestação da natureza em maior ou menor grau. Compreender a astrologia é também compreender a vida, o comportamento humano e principalmente compreendermos a nós mesmos e a todos os potenciais que podemos desenvolver.

Você conhece o seu mapa astral? Sabe em quais signos estavam os planetas quando você nasceu? Essa interpretação pode te ajudar a entender melhor sobre a sua maneira de ser, pensar, agir, falar, relacionar e também ver o mundo, a arte, as pessoas e as situações de outra maneira.


*Para uma análise assertiva e individual, é necessário analisar outros fatores no mapa natal de um indivíduo para concluir a maneira de responder ao seu ambiente.

Deixe um comentário