Terror e mistério: o que se esconde no escuro

#Crítica – Um Estranho no Escuro recorre à confusão de sentidos para reproduzir nossos medos mais primitivos.

por Sarah Cafiero

Após presenciar um assassinato, um homem cego vira alvo do assassino, que o persegue até sua casa. Com essa trama, o curta-metragem de terror Um Estranho no Escuro (dir. Matheus Albano, 2019) resgata a estética do Film Noir, criando um aflitivo jogo em que o perseguidor parece intencionar, antes de mais nada, intimidar e aterrorizar o protagonista.  

À medida que o assassino se aproxima, os planos se fecham e a imagem se torna turva, colocando o espectador na posição do personagem perseguido. O filme transpõe para a tela o medo infantil que nós, videntes, temos daquilo que não podemos ver. O medo do escuro e do que ele esconde. E o terror é construído em cima disso.

Utilizando-se da pouca luz e de enquadramentos que não nos permitem ter dimensão da cena como um todo, o assassino se confunde com as sombras e são poucos os momentos em que temos certeza de onde ele está. Sua natureza é igualmente indistinguível: a silhueta bestial pode ser humana, sobrenatural ou, quem sabe, produto da mente inventiva, aterrorizada, do protagonista.

A narrativa chega ao clímax quando, além da visão, o filme nos embaralha também a audição, criando caos com alarmes e faróis piscantes num estacionamento. Os planos se abrem novamente, mas a confusão de luzes mantém a aflição de não poder ver. É nesse contexto que a batalha final se dá: o protagonista finalmente consegue confrontar o assassino e reagir, arrematando o filme com um desfecho ambíguo, coerente com a estética da obra, de confundir mais do que revelar. 

O diretor do filme, Matheus Albano, é Bacharel em Cinema e Audiovisual pela UFF e também dirigiu, além de fazer a montagem, o curta Um Punhado de Fotos por Cinco Reais (2019). Roteirista, diretor e montador de publicidade e cinema, também trabalhou como assistente de direção em produções premiadas. Um Estranho no Escuro, que acabou de estrear na Cardume, ganhou “Destaque em Contribuição Técnica” no 21° Festival Brasileiro de Cinema Universitário. Não deixe de conferir e tirar suas próprias conclusões!

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